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Mensagens

Salgado

Que mar é este onde me sento Onde nada vive Pois é Morto. Terão sido as estátuas de sal de Sodoma Que o temperam de mal?  

Água

A cortina húmida e condensada Enevoa a vista da janela Fica mais etérea e bela A cidade, na bruma amansada. E se a cortina húmida se torna sólida Toda a cidade fica mais suave. De cristais de neve, floco leve A paisagem parece aveludada. E afinal, nada mais é que água.

Penas

Acordei. Vi penas no chão. De onde virão? Examinei as costas; Nada de novo. Recordei os sonhos; Nem anjos, nem aves. De onde virão? Segui o seu rasto, Pluma a pluma E descobri: Libertavam-se, uma a uma, Do edredão.  

Búzios

Aconcheguei um búzio a cada ouvido. O ar que rodopia nas concavidades Trouxe-me a utopia do Mar em bramido. Em estereofonia…

Luz

Olhando o céu limpo e estrelado Desejo que as estrelas se abeirem de nós. Não cadentes e meteóricas             Mas como astro luzeiro Que pudesse alumiar o caminho Da vida e da morte revelado.

METAPANDEMIA: UMA REFLEXÃO PESSOAL

Passada a surpresa e aflição iniciais, face a uma ameaça nunca antes identificada, invisível e pandémica, começaram a surgir, em suportes e meios diversos, as reflexões sobre o fenómeno.  Começaram por ser reflexões sobre os aspetos mais imediatos e as consequências mais previsíveis: a incapacidade de alguns indivíduos agirem em conformidade com a gravidade da situação, a responsabilidade individual no bem comum, a impreparação dos meios de socorro para lidarem, com dignidade e segurança, com os doentes, a entrada em teletrabalho, quase instantâneo e sem meios, em diversos setores ou as consequências económicas. Mais tarde, começou-se a refletir sobre a capacidade (ou não) do SNS, sobre a heroicidade dos profissionais de saúde (aplaudidos à janela o que, sendo um gesto bonito, não tem qualquer eficácia), sobre os apoios à economia e os apoios sociais, sobre a relação sistema público de saúde-sistema privado, sobre as cadeias de transmissão (sobretudo nos lares e nalgumas zonas dom país

Deserto

Abisma-me o deserto: Imenso, virgem, vazio, mutável. Sem placas nem sinais. Imaginam-se trilhos, Que se trilham com visão opaca. Pode morrer-se no deserto, seco de sede mesmo à beira do oásis. Sonho com nascentes subterrâneas, Que abrolham às golfadas, Por entre os grãos de areia. E o deserto seria um Mar, sem placas nem sinais, Onde se poderia morrer, Afogado na solidão.